O recente caso envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, que solicitou autorização judicial para realizar um procedimento cirúrgico na pele, trouxe à tona um termo que, embora comum nos consultórios dermatológicos, gera muitas dúvidas: o nevo melanocítico. Conhecido popularmente como pinta ou sinal, essa lesão é, na grande maioria das vezes, benigna. No entanto, sua correta avaliação e acompanhamento são cruciais, pois representam o principal fator de risco para o desenvolvimento do melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele. Entender a diferença entre uma pinta inofensiva e um sinal de alerta é um passo fundamental para a prevenção e o cuidado com a saúde.
Nevo Melanocítico: O Que É e Por Que a Atenção Recente?
Um nevo melanocítico é, em sua essência, uma proliferação benigna e localizada de melanócitos, as células responsáveis por produzir melanina, o pigmento que dá cor à nossa pele, cabelos e olhos. É perfeitamente normal que um adulto jovem possua entre 10 e 40 nevos espalhados pelo corpo. Eles podem ser congênitos (presentes desde o nascimento) ou adquiridos ao longo da vida, principalmente devido à exposição solar e fatores genéticos. A relevância clínica dessas lesões não está no que elas são, mas no que podem se tornar. A avaliação regular por um profissional é fundamental para monitorar qualquer mudança. Em uma clínica de dermatologia especializada, o especialista utiliza ferramentas de diagnóstico avançado para diferenciar um nevo comum de um atípico, que possui maior potencial de transformação maligna.
Casos envolvendo figuras públicas, como o de Jair Bolsonaro e também o do presidente Lula, que removeu uma lesão pré-cancerígena (leucoplasia) no passado, funcionam como um poderoso lembrete sobre a importância da vigilância dermatológica. A atenção da mídia amplifica a conscientização pública, incentivando mais pessoas a examinarem a própria pele e a procurarem um especialista. Embora o melanoma represente apenas cerca de 1% de todos os cânceres de pele diagnosticados, ele é responsável por mais de 75% das mortes relacionadas a tumores cutâneos, um dado que reforça a urgência do diagnóstico precoce. A remoção de um nevo suspeito não é apenas um procedimento estético, mas uma medida preventiva de saúde de alto impacto.
A Regra do ABCDE: Seu Guia para o Autoexame de Pele
A ferramenta mais conhecida e eficaz para o autoexame de pintas e sinais é a regra do ABCDE. Este método simples ajuda a identificar características suspeitas que merecem a avaliação de um dermatologista. Realizar este autoexame mensalmente, em um local bem iluminado e com o auxílio de espelhos, pode ser decisivo para a detecção precoce de um melanoma. Lembre-se, esta regra é um guia, e qualquer lesão nova, que mude ou simplesmente pareça “estranha” deve ser examinada por um profissional.
Vamos detalhar cada letra da regra:
- A de Assimetria: Imagine dividir a pinta ao meio. Se as duas metades não são iguais, ou seja, são assimétricas, isso é um sinal de alerta. Nevos benignos costumam ser redondos e simétricos.
- B de Bordas: Bordas irregulares, serrilhadas, mal definidas ou com contornos borrados são características suspeitas. Pintas normais geralmente têm bordas lisas e bem delimitadas.
- C de Cor: A presença de múltiplas cores em uma única lesão é um sinal preocupante. Variações de tons de castanho, preto, e a presença de áreas avermelhadas, brancas ou azuladas exigem atenção imediata. Nevos benignos tendem a ter uma cor uniforme.
- D de Diâmetro: Lesões com diâmetro maior que 6 milímetros (aproximadamente o tamanho da parte de trás de um lápis) são mais suspeitas, embora melanomas possam surgir em lesões menores. O tamanho é um critério importante, mas deve ser avaliado em conjunto com as outras características.
- E de Evolução: Talvez o critério mais importante de todos. Qualquer mudança observada em uma pinta – seja no tamanho, na forma, na cor, ou o surgimento de sintomas como coceira, sangramento ou dor – é um forte indicativo de que você deve procurar um dermatologista o mais rápido possível.
Diagnóstico e Tratamento Moderno: O Que Esperar no Consultório
Quando uma pinta suspeita é identificada, a consulta dermatológica é o próximo passo. O especialista não se baseia apenas no exame a olho nu. A principal ferramenta de diagnóstico é a dermatoscopia, um exame não invasivo onde o médico utiliza um aparelho chamado dermatoscópio. Este dispositivo possui uma lente de aumento e uma fonte de luz polarizada, permitindo a visualização de estruturas na epiderme e derme que são invisíveis a olho nu. Com isso, é possível analisar padrões de pigmentação, vasos sanguíneos e outras características, aumentando significativamente a precisão do diagnóstico.
Para pacientes de alto risco – com múltiplos nevos, nevos atípicos, histórico pessoal ou familiar de melanoma – o dermatologista pode indicar o mapeamento corporal total e a dermatoscopia digital. Este procedimento envolve fotografar toda a superfície da pele e registrar imagens de alta resolução das pintas mais relevantes. Em consultas futuras, essas imagens são comparadas, permitindo a detecção de mudanças mínimas e precoces, um processo conhecido como monitoramento longitudinal.
Se, após a avaliação, a remoção for indicada, a excisão cirúrgica é o padrão-ouro. O procedimento é realizado com anestesia local no próprio consultório. O dermatologista remove a lesão inteira com uma margem de segurança de pele saudável ao redor. Esse material é, então, enviado para análise histopatológica (biópsia), que confirmará a natureza da lesão – se é benigna, atípica ou maligna. A recuperação é geralmente rápida, com a cicatrização ocorrendo entre 7 e 21 dias. Técnicas de sutura cuidadosas, e em casos de lesões maiores, o planejamento conjunto com a cirurgia plástica para o uso de enxertos ou retalhos, garantem os melhores resultados estéticos e funcionais.
O Futuro Já Chegou: Tecnologias que Estão Revolucionando a Dermatologia
A dermatologia, especialmente a área de oncologia cutânea, está em constante evolução. Nos últimos anos, a tecnologia tem se tornado uma aliada poderosa no diagnóstico e tratamento dos nevos melanocíticos e do melanoma. A dermatoscopia digital, que já era um avanço, está sendo aprimorada com softwares de Inteligência Artificial (IA). Esses algoritmos são treinados com milhares de imagens de lesões de pele para identificar padrões suspeitos com uma precisão que, em alguns estudos, já se compara à de dermatologistas experientes. A IA funciona como uma ferramenta de apoio, oferecendo uma “segunda opinião” digital e ajudando a priorizar lesões que necessitam de atenção imediata.
Outro campo promissor é o da cirurgia guiada por imagem. Tecnologias como a microscopia confocal de reflectância permitem uma visualização em tempo real das camadas da pele, ajudando o cirurgião a definir as margens de excisão com precisão milimétrica, garantindo a remoção completa do tumor e preservando o máximo de tecido saudável. Para o tratamento de certos tipos de nevos benignos com finalidade puramente estética, tecnologias como os lasers ablativos e outras técnicas minimamente invasivas estão sendo aprimoradas. No entanto, o debate sobre seu uso persiste, e a cirurgia tradicional ainda é a única opção segura para lesões com qualquer grau de suspeita de malignidade.
Esses avanços apontam para um futuro onde o monitoramento será mais preciso, os diagnósticos mais rápidos e os tratamentos menos invasivos, aumentando a segurança e o conforto do paciente e, o mais importante, salvando mais vidas através da detecção ultraprecoce.
Prevenção e Cuidados Contínuos: Fortalecendo a Saúde da Sua Pele
Embora a tecnologia e os tratamentos sejam fundamentais, a base para a saúde da pele continua sendo a prevenção diária. A exposição à radiação ultravioleta (UV) do sol é o principal fator de risco modificável para o surgimento de nevos e para o desenvolvimento do câncer de pele. Portanto, a fotoproteção não é um luxo, mas uma necessidade.
O uso diário de um protetor solar de amplo espectro, com fator de proteção (FPS) 30 ou superior, é inegociável. Ele deve ser aplicado em todas as áreas expostas do corpo, mesmo em dias nublados ou dentro de casa, e reaplicado a cada duas horas em caso de exposição solar direta, sudorese intensa ou contato com a água. Além dos protetores solares, o mercado de cosmecêuticos oferece formulações avançadas que complementam a proteção. Produtos com antioxidantes, como a Vitamina C, a Vitamina E, o ácido ferúlico e a niacinamida, ajudam a neutralizar os radicais livres gerados pela radiação UV, diminuindo o estresse oxidativo e o dano celular que podem levar a mutações.
Adicionalmente, medidas de proteção física como o uso de chapéus de abas largas, óculos de sol com proteção UV e roupas com tecidos tecnológicos que bloqueiam a radiação são altamente recomendadas. Evitar a exposição solar nos horários de pico, entre 10h e 16h, também é uma estratégia eficaz. Educar-se para o autoexame regular e manter as consultas de rotina com o dermatologista completam o tripé da prevenção: proteção, autoavaliação e acompanhamento profissional.
Recomendações dos Especialistas do SKIN TODAY
- Realize um check-up dermatológico anual: A consulta com um especialista é a forma mais segura de avaliar todas as suas pintas, especialmente com o auxílio da dermatoscopia. Profissionais podem identificar sinais de risco que passam despercebidos aos olhos leigos.
- Incorpore o autoexame mensal à sua rotina: Utilize a regra do ABCDE para monitorar suas pintas. Faça disso um hábito, assim como outros cuidados de saúde. Qualquer alteração, por menor que seja, justifica uma visita ao médico.
- Use protetor solar todos os dias, sem exceção: Faça do protetor solar o passo final e indispensável da sua rotina matinal de cuidados. Esta é a medida isolada mais eficaz para prevenir o envelhecimento precoce e o câncer de pele.
A pele é o nosso maior órgão e a primeira linha de defesa contra o mundo exterior. Cuidar dela não é apenas uma questão de estética, mas um pilar fundamental da saúde. A informação, a prevenção e a busca por acompanhamento especializado são as ferramentas mais poderosas que temos para garantir uma pele saudável e nos proteger contra o câncer de pele.